segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Daslu

Por "um brasileiro classe média"
Sempre tive vontade de conhecer essa tal de Daslu. Já que estava em São Paulo, por quê não ir? Ainda mais depois que me disseram que lá não existe nenhuma peça que custe menos de três dígitos, resolvi dar uma de São Tomé e ver para crer. A entrada já foi um problema. O segurança perguntou pelo meu carro - ou motorista. Quem já foi sabe muito bem: na Daslu, acreditem,
não se entra a pé, somente motorizado. Fingi que não era comigo e entrei.

Fui recepcionado por uma loira escultural com sorriso de anúncio de dentifrício, uma sósia escrita da Ana Hickman - com direito a 1m30 de pernas, chapinha no cabelo, olho azul e muito mais.
"Where are you from?"
"Belém do Pará".
"I beg your pardon!"
Tava na cara que eu não era paulistano. Mas daí a me confundir com gringo, já é demais. Eu lá tenho cara de estrangeiro?
Como um cão sabujo, onde eu ia, ela ia atrás. Dos milhares de itens que admirei boquiaberto, um em particular me encantou. Uma bolsa tiracolo Prada pra lá de maneira que imaginei que coubesse no meu orçamento.
Ressabiado, indaguei o preço.
"Nove, apenas nove. E o senhor pode dividir de três vezes no cartão".
"Nove o quê?"
"Nove mil..."
"Égua!"
A pequena ficou tão assustada com minha reação que cheguei a pensar que fosse chamar os seguranças. Mas não. Acho que ela sacou que daquele mato não sairia cachorro, no máximo um carrapato. Fechou a cara, deu meia-volta e sumiu.
Já que estava na chuva, resolvi me molhar. Entrei num salão onde só tinha Armani. Como já estava enturmado, perguntei o preço de um "vestidinho" de festa. Adivinhem? 100.000 pilas. Tu és doido! Uma estola de zibelina? 60.000. Fico imaginando quantos bichinhos foram sacrificados para esquentar o lombo de uma madame. Um blazer Ermenegildo Zegna (isso lá é nome de grife?), 13.000. Um óculos Gucci, 4.500. Uma cuequinha básica do Valentino, 260. Com direito a ouvir essa pérola do vendedor: "Leve logo meia dúzia, tá na promoção!". Imaginem quanto ela custava antes.
Na adega climatizada não foi diferente. Um Romaneé-Conti, safra 2000 - aquele do Lula - estava por módicos 8.000 reais. Uma garrafa de Johnnie Walker Blue, envelhecida 80 anos - uma das raras existentes no planeta, 55.000.
Fiz as contas e verifiquei que no final saí no lucro.
Vi gente famosa, coisas bonitas, tomei mineral Badoit, capuccino, Prosecco, champanhe Taittinger, fartei-me de canapés, foie gras, blinis com caviar (não era Beluga). Sou duro, mas sei o que é bom. Até confit de canard tracei. De quebra, profiteroles e apetitosos bombons trufados. As horas passaram voando.
Minha acompanhante finalmente apareceu e perguntou: "Vamos almoçar?"
"Almoço? Estou almoçado e jantado!"
Depois de conhecer quase tudo descobri que a Daslu é uma espécie de zoológico sem grades. Só que os bichos somos nós. Eu e você.
Acabado, me esparramei num confortável sofá. Enquanto esperava o resto da turma chegar, abri um livro e relaxei. Mal virei a segunda página, dois novos ricos falando alto, com mais sacolas do que mãos, sentaram ao meu lado esnobando:
"Amanhã vamos para o nosso haras em Catanduva. O reveillon será no
Guarujá".
Me deu uma raiva...
Peguei meu celular e resolvi mentir um pouco:
"Zé Luis, não encontrei nenhum 'Summer' para o reveillon. Abastece o
jatinho.
Partiremos amanhã cedo para Paris. Essa Daslu tá um lixo!"
A cara que os dois fizeram, não tem preço.

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